Os habitantes da Faia procuram descontrair-se na praça (no fim do dia da labuta e aos domingos), centro nevrálgico da vida social da aldeia, para não pensarem no dilúvio que se irá abater sobre a aldeia. | |||||||||||||||
Aos domingos, Luis Sobral e Fernando Caiado vão ao Távora pescar barbos e bogas, de manhã bem cedo sob um nevoeiro cerrado.
|
|||||||||||||||
A população de Freixinho e Fonte Arcada, com grandes espaços de terrenos e vales férteis, estão apreensíveis e em pânico com o grande empreendimento da engenharia que lhes irá avassalar o seu meio de subsistência | |||||||||||||||
Os povos de Freixinho e Fonte Arcada, assentes nas margens
direitas do rio Távora, sempre viveram ao longo dum fértil e longo vale,
cercados por montes, que os abrigava dalguns ventos. Tais circunstâncias, a
natureza do solo e a abundância de águas, tornaram tal vale tão produtivo,
que praticamente só ele bastou por muito tempo para a riqueza das duas
povoações; por força do progresso, então no início dos anos 60, foi
construida a barragem hidroeléctrica a jusante de Vila da Ponte e pouco
abaixo da aldeia do Vilar, que veio inundar todo o território deste
vale. Todos estes vales ribeirinhos das freguesias de Freixinho e Fonte Arcada, possuiam terrenos muitos férteis, oferecendo muitos frutos, azeite e e grãos e aínda batata, milho, centeio, trigo, feijão e castanhas; também a produtividade do azeite era razoável. Com o estancamento das águas pela barragem do Távora, então estas duas freguesias sofreram a amputação das suas regadas, várzeas, moinhos e pomares marginais. As aldeias, antes fartas de produtos agrícolas, vêm-se agora privadas de muitos deles. Os terrenos mais férteis foram afogados. Felizmente não aconteceu como na Faia, o casario ficou intacto. Tal como na Faia, os terrenos agrícolas de Freixinho e Fonte-Arcada só podem compensar-se subindo para o monte, desbastando o granito macio e remetê-lo no mercado de consumo. Todavia, na era do betão, com é possível? Em Freixinho e Penso, existiam os moínhos do Pontigo, onde chegava a água por uma levada, batendo em cheio nas penas do rodízio, pondo-o em movimento, desfazendo os grão de milho, centeio e trigo em farinha. Desapareceu a moagem do Sr Aquino, com um moderno lagar de azeite de prensas hidráulicas, com tulhas, garagem, a regada, a horta, o pomar, a vinha, e o viveiro de trutas. Passava por ali a ponte românica do Pontigo, de tabuleiro em ângulo obtuso, de onde, à esquerda, sobre fragões enormes os rapazes de Freixinho e Penso, os utilizava como vestiário e encoiros se atiravam, seguidamente, de mergulho nas águas fundas e frias do Fisgueiro e, à direita, do penedo do Musguento.
A Barragem encheu e tudo desapareceu; a imagem do afogamento de todo este longo, próspero e histórico vale do Távora, com todas as suas pontes, quintas e aldeia de Faia só me fez lembrar o filme do navio Titanic no seu afundamento... Tanta vida nos últimos milhares de anos neste local, a própria história de Portugal aqui esteve representada: - Os estudos remontam os primeiros povoamentos humanos a tempos proto-históricos. Apareceram em tempos atrás fragmentos de cerâmica grosseira atribuídos à época lusitana. Encontraram-se, também, moedas de prata e de cobre, utensílios de ferro, pedaços de mós e marcos miliários da época romana. Existem sepulturas gravadas na rocha, muitas submergidas pelas águas. - O fundador da
Nacionalidade, D. Afonso Henriques, que em 1140 regressava de Trancoso,
coroado de Glória, bateu os mouros que tentavam embargar as suas tropas à
passagem do Távora. Também nestas margens, D. Tedom e D. Ranzende
descendentes de nobres fidalgos da cavalaria medieval, venceram muitas vezes
os mouros. Assim, está bem presente na história de Portugal que as margens
do Távora foram caminhos trilhados por cristãos e mouros, e as suas águas
testemunhas mudas de muitos feitos de armas, que foram contribuindo para
a formação da nossa nacionalidade. -Zona com esta onde abunda o
granito, foi este o material fundamental para a construção das casas da
Faia, e das Quintas que se encontravam por todo o vale. Bonitos moinhos com
as suas mós e regadios de granito davam uma imagem de rusticidade,
vitalidade e muito trabalho, fruto de obra por vezes de várias e várias
gerações.
- Tantos valores, tanta vida tantos
trabalhos, tantos sons. O perfume das flores, a sombra das árvores, o
chilrear dos passarinhos. A vida das pessoas no dia a dia, as suas
convivências, os seus animais, as suas propriedade, honrosamente respeitadas
e tratadas, pois eram a sua subsistência, e os valores materiais e de sangue
dos seus familiares.
No filme do Titanic, quando este se estava a afundar, as pessoas gritavam, pediam socorro, queriam ser salvas; uma grande maioria foi afogada. Os gritos de desespero e terror, decerto que sensibilizaram qualquer espectador do filme; momentos depois o silêncio....O navio afundou-se e as pessoas rápidadmente morreram geladas e afogadoas no Atlântico. De repente também no vale histórico e próspero do Távora, tudo
se afogou num instante! nem moínhos, nem
moleiros.
É esta a perspectiva de um poder económico condicionante, de um poder
político instalado, que, sem olhar a meios, sacrificou um território, sem
que os benefícios viessem a compensar, quanto mais a ultrapassar, o ónus dos
custos... |
|||||||||||||||
Vila da Ponte, também atingida pela albufeira, vive um pouco abstracta com a realidade do preenchimentos das zonas mais baixas e destruição da ponte romana, pelas águas da barragem | |||||||||||||||
Vivia-se na altura com uma questão pendente, que muito
absorveu os espíritos dos ViladaPontenses, as discórdias do Calvário entre a
Junta e a família dos Rebelos, afecta ao poder judicial.
|