O tratamento da videira e a colheita da uva
para o vinho, nos meados do século passado
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O Sr. Joaquim Raspa foi durante muitos anos, na década de 60 o caseiro
da nossa casa agrícola; homem pobre, natural de Vila da Ponte, casou em
Vila Cova com a Senhora Custódia de Lemos, uma senhora muito séria e
delicada à família
Foram três os filhos que teve, todos emigraram em jovens adultos para a
França e Alemanha, e foram bem sucedidos, pela aptidões para o trabalho
e seriedade que os caracterizava.
O Sr. Joaquim, conforme o vemos à esquerda, era um fumador inveterado,
excessivamente bebedor, mas lá ia cumprindo as sua tarefas. Homem muito
pândego e alegre, sempre numa boa disposição com todos.
Era-mos proprietários de várias vinhas na aldeia, e, no tempo em
que eram tratadas pelo Sr. Joaquim Raspa o ritual anual da manutenção, para que na época da colheita houvesse uvas de
boa qualidade, era extremamente complexo: |
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-Quando as videiras já não produziam ou secavam
arrancavam-se e plantava-se o bacelo (videira brava ou
americano) em Fevereiro ou Março, e um ano depois enxertavam-se com
várias castas de videiras.
-Depois do 1º ou 2º anos as videiras ou a vinha eram
embardados, bardos estes feitos com arame e espeques de pedra.
-Seguidamente, havia uma tarefa contínua de vigilância e
tratamento das videiras, visto que estas estavam atreitas a várias
moléstias: o míldio, a maromba que encornilhava e apodrecia as
uvas, e o pedrôlho, insecto que atacava as videiras quando
estavam a borbolhar. |
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-Anualmente, em diferentes épocas também se faziam
outras tarefas com vista à saúde da videira:
-a escava, após as vindimas ou em
Fevereiro, podendo ser à poça ou escava aberta.
-a poda, normalmente era executada em
Outubro ou Novembro, mas por vezes também era
executada em Janeiro ou
Março; em alturas de muito gelo não se podia fazer a poda.
-as vides eram cortadas nas podas,
juntas em molhos, os capões e serviam de lenha para a lareira
-a cava era feita em Março e Abril
com a enxada.
-as ervas que nasciam depois da cava
eram cortadas com a sachola - a redra.
-a vinha tinha de ser polvilhada com
enxofre, a enxofra, mais ou menos por altura do S. João depois
das videiras florirem quando as
uvas começavam a estar limpas.
-as caldas para sulfatar, feitas numa
barrica, levando água, cal em pedra e sulfato de cobre, feitas de
15 em 15 dias, ou de 8 em 8 se o
tempo estivesse mau.
- quando as videiras podadas estavam
a rebentar, atavam as varas com refia aos arames (erguida)
-os rebentos que saíam das varas eram
amarrados às estacas ou aos arames (amarro dos pampos)
-A esfolha era feita pelo S. João,
para que as uvas apanhassem sol de forma a amadurarem e
limparem melhor, eram
tiradas às videiras as folhas que cobriam os cachos. |
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-Nos finais de Setembro até princípios de Outubro
faziam-se então as vindimas.
Com meses de antecedência rogava-mos as mulheres para cortar os
gatchos; eram da Vila da Ponte, e muitas vinham de Fonte Arcada, já
que as nossas propriedades também eram de pertença do Dr. Domingos
Requeijo natural desta mesma aldeia.
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Para levar os cestos vindimos
até à dorna do carro de bois, procurava-mos os jovens e homens mais
musculosos.
Também com a devida antecedência, rogava-mos dois carros de
bois, para trazer as dornas cheias de uvas para o lagar. Enquanto um
estava a carregar na vinha, o outro vinha esvaziar a dorna ao lagar.
Em ambiente festivo todos participavam a esta tarefa, que sendo um
trabalho, eram dias de convívio, beber uns copitos a mais, e
deliciarem-se com o rancho, bem nutrido em batatas e carne que era
confeccionado em grandes panelonas de ferro, pela Srª Emília do
Portugal.
Então nos dias que duravam as vindimas (cerca de 10 a 15 dias) e um
pessoal de cerca de 25 cabeças, eram cortados os gatchos,
deitados nas cestas que cada um levava, e despejados pelos rapazes nos
cestos almudeiros ou vindimos. |
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Os cestos vindimos cheios de uvas, eram descarregados na dorna,
que estava colocada no carro de bois. |
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Depois de entrarem no lagar as uvas, os catchos eram pisados
pelos homens, ora juntos com as mãos nos ombros uns dos outros, ora em
qualquer ponto do lagar isoladamente a pisar as uvas. Cantavam, bebiam
vinho e aguardente, comiam um farnel, e esta tarefa, que começava ao fim
do dia, prolongava-se por noite adentro. |
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Depois de 2 a 3 dias, durante os quais a uvas pisadas tinham fervido,
abria-se o lagar para escorrer o vinho para a lagareta. Desta levavam-no
em canecos para os toneis e pipas, onde ficava fechado enquanto
estava cru. |
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Dentro do lagar ficava o vinhaço, que ou era aproveitado para
estrume e as grainhas eram dadas aos animais, ou para fazer aguardente
no alambique de Fonte Arcada.
Quando o vinho estava bom procurava-se vender aos taberneiros, que o
procuravam para o vender nas suas localidades, festas e feiras. |
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